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31.5.04

Parede 

Sopro as palavras para a Parede que, exausta, me as devolve distorcidas.
Conto-lhe mil contos e repito-os mil vezes. Assusto-a, canso-a.
Transformo-a, sem lhe pedir, na minha confidente e, ridiculamente, tento abraçá-la, sabendo que me detesta.
Observo-a, estática, e tento provocar-lhe um sorriso, nem que breve, nem que escondido, fazendo-lhe cócegas e contando-lhe histórias engraçadas.
Mas, mais uma vez, não tenho sucesso...
Por vezes, desesperado -eu-, atiro-lhe copos de bebidas com nomes estranhos e estrangeiros e estranhos por serem estrangeiros, mas não só! Insulto-a e provoco-a, chego mesmo a tentar quebrá-la, partí-la e destruí-la. E depois assusto-me, grito, choro e deixo-me caír, inerte.
No dia seguinte, ou em outro dia qualquer, volto a contemplá-la e, no findo, Amo-a. Amo-a porque sei que não me desapontará e que para sempre será minha amiga.


Obrigado Parede feia, Parede linda...Parede minha.

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3.5.04


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Sonhei, confuso, e o sono foi disperso,
Mas, quando dispertei da confusão,
Vi que esta vida aqui e este universo
Não são mais claros do que os sonhos são
Obscura luz paira onde estou converso
A esta realidade da ilusão
Se fecho os olhos, sou de novo imerso
Naquelas sombras que há na escuridão.

Escuro, escuro, tudo, em sonho ou vida,
É a mesma mistura de entre-seres
Ou na noite, ou ao dia transferida.

Nada é real, nada em seus vãos moveres
Pertence a uma forma definida,
Rastro visto de coisa só ouvida.


Fernando Pessoa, 28-9-1933.

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A noite lá fora está um pouco mais fria que o habitual, e por isso, os dois bêbedos do costume, continuam a discussão anterior, mas vestem casacos grossos.
Na mão direita de um continua o cigarro sem filtro e na esquerda brilha um copo baço de vinho. O colega, por seu lado, tem o copo de vinho na mão direita e o braço esquerdo "ao peito", fruto de mais uma tortuosa viagem de regresso ao colchão fedorento que, sem lençois, permanece inerte no centro da minúscula divisão a que nem ele ousa chamar quarto.
Sós e cansados, eles apenas se têm um ao outro. A discussão já se arrasta há algum tempo e é ela, só ela, que consegue dar um pouco de sentido às suas miseráveis existências...
Os copos de vinho sucedem-se na certeza de que afinal haverá amanhã e por isso, eles bebem mais um.

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Oh...SI!! Clika-me que eu gosto!!1 Como me gusta...

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